Como ensinar desapego para crianças

Nos meus cursos de Organização de Residências temos uma parte especial sobre técnicas de descarte, a qual costuma render muitas conversas e trocas de experiência entre as alunas. Invariavelmente, temos sempre uma ou duas mães reclamando por não conseguirem fazer os filhos se desapegar de roupas, brinquedos e até mesmo de material escolar de anos anteriores. Neste post, quero compartilhar com você algumas ferramentas que costumo ensinar para minhas alunas e também aplicar com nossos mini clientes.

Antes das ferramentas, porém, gostaria de falar um pouco sobre a grande diferença que existe entre guardar coisas e ser um acumulador.

Muita gente guarda roupas, sapatos, documentos, louças e objetos em geral sem ter exatamente um motivo para cada objeto estar ali há tanto tempo. São o que costumo chamar de guardadores. E muita gente pode ser um guardador, em maior ou menor grau. Mas nem por isso são acumuladores. Sabe aquele chapéu lindo ganhado na adolescência que não tem nada a ver conosco atualmente mas que não conseguimos desapegar? Pois é. Isso é o que chamo de guardar. E, no caso específico do chapéu, eu estaria guardando pelo apego emocional a uma época bacana da minha vida, por exemplo (#quemnunca).

Já a acumulação é um transtorno que precisa ser tratado, seja psiquiátrica ou psicologicamente (pois existem muitos tipos dele), e não se relaciona com esses objetos que guardamos em casa sem ter exatamente um bom motivo. O acumulador, como você já pode ter visto na tevê, tem a rotina, relacionamentos e  espaços prejudicados por conta do acúmulo. Ou seja, acumular é outra coisa…. Não sou especialista em acumuladores e por isso não estenderei o assunto. No entanto, é importante sabermos a diferença básica entre guardar e acumular para que não digamos que nossos filhos estão virando acumuladores, certo? E tenho visto bastante gente usando esta expressão por aí apenas por não saber a diferença…

Agora sim, vamos às ferramentas que utilizo para ajudar os pequenos a desapegar.

1) Todo mundo merece uma caixa de recordações. Sempre faço para as crianças uma caixa para que ela coloque ali objetos da categoria “lembranças”, tais como cartinhas, bilhetinhos, brinquedos especiais ou qualquer outro objeto que remeta a algum momento especial para ela. Assim ela vai aprendendo desde pequena que nem tudo precisa ser guardado, mas que certamente existem itens especiais que vale a pena guardar na caixinha de recordações.

2) Quando é preciso treinar desapego primeiro com os pais.  Já reparou que às vezes não é a criança que tem apego aos brinquedos ou roupas, mas nós mesmos? Dias atrás eu estava com a filha de uma cliente numa sessão de closet detox e a mãe falou várias vezes para a menina: “Esse [a roupa] você não vai doar, né? Fica tão lindo em você!”. Ou seja, é bem comum que, muitas vezes, nós mesmos tenhamos dificuldade para lidar com o apego emocional e, por isso, não consigamos ajudar as crianças. Eu e a Dani Folloni, por exemplo, temos filhos pré-adolescentes. Agora imagine a gente comprando brinquedos bacanas num dia e, algumas semanas depois, meu Emiliano ou a Isabela virem falando que já vão descartar porque não querem brincar mais. E acontece exatamente assim, sobrando para nós a agonia no peito e a vontade de manter os brinquedos da nossa criança, por apego à infância (do outro). Neste caso, o importante é lidarmos primeiro com nosso apego para depois ajudar a criança.

3) Usando as frases certas você chega lá. Ao abordar a criança para o descarte, as frases usadas fazem muita, mas muuuita diferença. O ideal é usar uma abordagem que estimule a criança a querer desapegar por conta própria, e não a questionar muito se deveria ou não descartar. A frase que recomendo nunca ser usada é “Você ainda gosta? [da roupa ou objeto]”. Considerando que em geral gostamos bastante do que temos, esta estratégia levará a pouco ou nenhum descarte e, possivelmente, ao desgaste de uma nova sessão de desapego daqui a um tempo.

As duas frases que mais costumo usar com meus pequenos  clientes são estas:

1) Este brinquedo é para crianças da sua idade ou menores que você? Como criança adora crescer e jamais quer parecer “menor” do que é, sempre vale verificar com ela se não está guardando brinquedos de “criancinha”, como meu filho gostava de falar.

2) Quando você brincou com este brinquedo a última vez? Aqui a ideia é mostrar que só vale a pena ocupar os armários com brinquedos usados. Eu sempre falei para o meu filho que não há como abrir espaço para brinquedos novos se os armários estão cheios de brinquedos sem usar. E, especialmente antes dos aniversários, ele fazia desapegos muitos felizes, dizendo frases como “Mãe, aqui precisa ficar mais vazio, senão não cabe nada do que eu vou ganhar”.

Por fim, para as famílias que irão doar brinquedos e roupas  para instituições de caridade, recomendo muito que a criança vá junto, para aprender a valorizar ainda mais o que tem.

 

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