A quarentena e a redescoberta do lar

Tudo sempre pode ter um lado bom, mesmo quando parece ser bastante ruim. Você certamente já ouviu esta frase, não? Nesse período estranho e incerto em que estamos vivendo, há muitas coisas que não controlamos nem podemos mudar. Aliás, uma das conversações que tive comigo mesma neste período foi sobre como eu achava, quase ingenuamente, que controlava minha vida. Acreditava que a rotina estava sob meu controle, que bastaria me planejar para dar conta das prioridades, que ao fim do dia estaria em casa jantando com meu marido e filho. E realmente as coisas funcionavam e davam certo, pelo menos a maior parte do tempo.

Mas o fato é que, de um dia para o outro, o incontrolável ficou mais presente e a verdade sobre o quanto os dias são incertos bateu à minha – e à nossa – porta. E a nova realidade estava posta de uma forma bastante simples: recolham-se em casa, saiam o mínimo necessário, cuidem-se, #fiquemecasa. Simples assim! 

Em questão de dias, nossa rotina mudou por completo e passamos a trabalhar,  estudar, nos exercitar, almoçar, jantar e fazer tudo o mais tendo o ambiente doméstico como único espaço de convivência. E com este “ficar em casa”, não apenas acumulamos mais tarefas (para mim, o aspecto mais desafiador da quarentena), como também passamos a [re]descobrir a própria casa. Aos poucos, dia após dia, no mesmo compasso em que abstraíamos o fato de que a vida normal de antes de 15 de março demoraria para voltar, fomos descobrindo espaços, abrindo os armários, revendo objetos esquecidos, [re]tomando conta da rotina da casa e até descobrindo uma ou outra sujeira “vencida”.

Muitos aprenderam a cozinhar, ou passaram a cozinhar mais. Outros aprenderam a almoçar sem pressa. Houve quem aprendesse a lavar roupas, faxinar, organizar armários, e até quem tenha feito uma reorganização de toda a casa! Outros, ainda, passaram a curtir mais a varanda, como eu e nosso cachorro Theo. Tive amigas que redescobriram o home office, a sala de TV, e até mesmo a lavadora e a secadora de roupas. Passamos a fazer uma espécie de casaterapia.

Sim, ficamos mais cansadas e com carga bem maior de afazeres. Afinal, são necessárias muita organização e energia para dar conta do home scholling, do home office, das refeições, da limpeza da casa, das compras e ainda das preocupações com a saúde. Mas é inegável que muita gente, apesar de cansada, também se aproximou mais da família, curtiu mais os filhos e conseguiu saborear mais a garfada da macarronada do domingo. 

Tenho conversado bastante com clientes, amigas e alunas, e confesso que estou acompanhando esta volta da domesticidade feminina com um largo sorriso no rosto, apesar de todo cansaço e de o envolvimento masculino não ter de dado na mesma medida. Há anos eu acompanho e invisto neste movimento de as mulheres saírem do lugar de donas DA casa, para o de donas DE casa. Vi, inclusive, meu próprio envolvimento com a casa mudar ao longo dos anos. Aprendi a encarar os afazeres domésticos (que dividido com filho, marido e a Nalva, nossa ajudante) não como uma tarefa a ser cumprida, mas como um carinho e um cuidado pessoal, com minha família e com os ambientes em que vivemos e convivemos. Aprendi a entender o conceito da “dona de casa” sem qualquer demérito, mas como uma construção social como a de esposa ou mãe.

A casa é nosso ambiente mais íntimo, seguro e confortável e por isso não vejo motivos para não me alegrar em finalizar a faxina, arrumar a mesa para o jantar ou investir meia hora para deixar a cama do meu quarto linda e cheirosa. Ainda que possamos ter uma, duas, três ou quantas funcionárias domésticas precisarmos e/ou quisermos, a casa continua sendo nossa. Não importa se moramos sozinhas, com companheiro ou companheira, apenas com filhos, com outro familiar ou um amigo. Somos donas DE casa e DA casa. E não devemos perder a oportunidade de, cada vez mais, redescobrir e ressignificar este ambiente que se convencionou chamar de Lar.


Um beijo grande


Instagram @ingridlisboa.homeorganizer