Por que mães organizadas tem filhos bagunceiros?
Durante minhas consultorias e serviços de organização atendo a muitas clientes que, mesmo se considerando mulheres organizadas, mostram dificuldades em ensinar organização para seus filhos e, especialmente, em manter organizados os espaços da casa que dependem da participação de crianças e adolescentes. A principal reclamação é que, como os filhos não conseguem ajudar a manter a casa em ordem, a mãe organizada investe tempo demais para conseguir, sozinha, manter tudo no lugar. É evidente que cada casa e cada cliente são diferentes e possuem suas questões pessoais envolvidas. Mas, como regra geral, sempre faço algumas orientações que funcionam para quase todas elas. São, na verdade, estratégias que desenvolvi também por conta da minha vida de mãe organizada que precisou – e ainda precisa – ensinar organização para um garoto chamado Emiliano. Espero que minhas dicas possam ajudar você também. Vamos lá:
1) Deixar de lado o perfeccionismo. Eu já fui uma organizadora-perfeccionista inveterada e descobri, quando comecei a ensinar organização para meu filho ainda pequeno, que não teria sucesso se buscasse a perfeição. E por uma razão bem simples: esperar que uma criança de 3-4 anos dobrasse o pijama e arrumasse a cama como eu faria seria esperar algo inatingível para ele naquela idade. E, pior: deixá-lo fazer a dobra da camiseta ou arrumar a cama daquele jeito infantil e depois refazer (para ficar perfeito!) seria mostrar ao meu menino que ele não era capaz de atingir o padrão de esperado. Confesso que pensei algumas vezes em refazer algumas dobras e dar aquela ajeitada na cama quando ele saísse do quarto (#prontofalei). Mas aprendi a me conter e aceitar o melhor que ele poderia fazer naquele momento: uma cama com o lençol torto. E aprendi também a passar o domingo olhando para cama meio mal feita sem estresse. E sem arrumar de novo. O bacana foi que ele muitas vezes comentou coisas como “Mãe, você dobra melhor que eu, né?”. Ou seja, ele sempre soube que sua organização poderia melhorar. Hoje, com 11 anos, ele não é certamente um mini-organizer e nem faz dobras com gabarito. Mas saber que ele tira o pijama, dobra e recoloca na gaveta já me deixa bastante satisfeita. A cama? Ah, sim! Já fica mais bem arrumada agora. Portanto, minha dica para você é: baixar as expectativas e aceitar o limite da criança, deixando de lado o perfeccionismo.
2) Investir tempo para ensinar organização. Ensinar uma criança a se organizar e a organizar seus pertences é tão repetitivo – e às vezes bastante cansativo – como ensinar boas maneiras à mesa para os pequenos. Não sei precisar quantas vezes ensinei meu filho, na época com uns 3-4 anos, a dobrar camiseta. Foram várias. Na casa das clientes verifico a mesma necessidade.Percebo que muitas vezes as crianças deixam de organizar isso ou aquilo não somente porque não queiram fazê-lo, mas também porque não sabem em que caixa colocar ou como guardar um brinquedo, por exemplo. Ou seja, é importante investir um tempo considerável para ensinar organização e repetir o treinamento tantas vezes quanto forem necessárias. Se o foco dos pais for a manutenção da casa em ordem e a organização como hábito na vida dos filhos, este investimento de tempo será realmente valioso.
3) Aceitar que o padrão do outro pode ser melhor para ele do que o seu. Ao ensinar organização para meu filho percebi que algumas estratégias que eu usava em minha organização pessoal eram ótimas para mim, mas não funcionavam tão bem para ele. Como organizadora profissional, “engolir” isso não foi fácil. Mas precisei processar e seguir em frente. E vejo que isso ocorre em muitas das nossas clientes. Às vezes é uma forma de dobrar ou de guardar, um jeito de deixar os brinquedos organizados ou a maneira de se organizar para estudar. Nós, como mães, temos sempre a tendência de achar que nossa organização deve funcionar tão bem para os filhos quanto para nós, mas nem sempre é assim. Cito um exemplo: eu sempre estudei para provas de disciplinas teóricas como história e geografia da seguinte forma: sentando em um local tranquilo e lendo, relendo e lendo novamente, até compreender o assunto. Meu filho não aprende assim: ele não precisa de um lugar tão silencioso como eu e compreende melhor fazendo mapas mentais de cada assunto. Simples, né? Vejo este e outros exemplos em nossas clientes e sempre oriento sobre a importância de ensinar organização (tanto pessoal quanto de armários) sempre observando as necessidades e pontos de vista dos filhos, pois a organização precisa fazer sentido também para eles.
4) Nem tudo precisa estar no lugar correto o tempo todo. Muita gente pergunta se na minha casa está sempre tudo no lugar. E rapidamente respondo que não. Tudo no lugar o tempo todo não fica, não. Sempre há algum sapato na lavanderia para ser limpo e guardado no armário, ou um livro que estou lendo fora da estante, ou uma roupa no gancho em que separo o look que vou usar no dia seguinte. E entendo que casa organizada é assim: uma casa em que todas as coisas tem um lugar correto para ficar. Mas não precisam estar lá o tempo todo. E por uma simples razão: casa de verdade tem rotina, tem vida, tem movimento. Sendo assim, sempre haverá algo fora do lugar, à espera de ser recolocado. Isso não significa excesso de coisas fora dos armários, brinquedos espalhados pelos cômodos, nem estresse. Vejo muitas clientes nossas bastante estressadas porque querem, por exemplo, que cada sapato sujo seja limpo na hora e já reorganizado no armário. Ou que cada copo seja lavado após o uso. Ou ainda que nunca haja um brinquedo na sala. De verdade: não acredito que seja necessário. Desde que a casa tenha uma rotina em que os filhos se envolvam na manutenção da organização, as possibilidades de manter tudo em ordem são grandes, mesmo com um ou outro objeto fora do lugar. O desgaste é menor e o resultado bem melhor.
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